terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Verminant Flower

Tudo parecera tão reluzente, tão magnífico, tão safo, tudo seria tão perfeito, mas sabe o que eles dizem, não é, o crime não compensa, e Deus não tardara de punir a tripulação do Verminant Flower.
Com água salgada até as canelas, as mãos cheias de ouro e as roupas cheias de vômito, em cima de um pedaço de proa afundante em algum ponto inatingível desse imenso mar, Black Bottle Joe, como fora conhecido em seus dias de glória, podia ver claramente essa punição. Aliás, olhando pra os cacos de barco com ouro em cima e os corpos flutuantes de seus companheiros de pilhagem, ele sequer conseguia mais pensar devido a sede, a fome, a tristeza, a falta do pé direito. A morte eminente também não lhe permitia.
Mas ainda assim ele cantava um cântico pirático a muito esquecido, talvez por que todos que tinham composto ele estavam mortos agora, e o último autor estava sendo lentamente enbraçado pelos frios membros tentaculosos da morte.
A secura era tão forte que suas cordas vocais estavam se rachando de desidratação, e ele todo era um galho no meio do mar, seco e vivo. Suas palavras eram incompreensíveis, mais incrivelmente soavam musicais, e aos poucos foi sendo levada pelo vento impiedoso e salgado do mar, e a história que estes versos contam devem ter sido ouvidos e depois repetidos por algum Demônio que por sobre aquelas águas pairava.

De qualquer maneira, ignorem o narrador da poesia gananciosa e escutem os tristes e amargos lamentos, (postos em narrativa, pois a poesia não merece ser ouvida por nem um filho de Deus) de um homem que sabe que nunca mais nada há de voltar... nunca mais...

"Mesmo me encontrando neste terrível estado de degradação, consumido pelo rum e pelo rum, sei que meu profundo olhar ainda causa agonia em jovens corações que sabem de minha história, que sabem de como assasinei incontáveis portos, saqueei dezenas de fortes e de como derrubei, com a ajuda de apenas 5 bons homens aquele forte Espanhol, com nosso poderoso aço. Apesar de sua insistência, a morte não vai me levar antes que eu possa me divertir uma última vez. Preciso tão somente de 20 bons homens e suprimentos, então podemos roubar as reservas daquela prisão, libertar todos os bons homens injustamente trancados lá, e por fim, derrubá-la, então a dama de negro podera me levar para junto de meus companheiros, mas por hora, preciso de mais rum.
Ainda tenho meu mapa, ainda tenho todos os orgãos no lugar e ainda posso fazer isso. Debaixo do Sol do bom Deus acabo de arruinar a vida de 20 ambiciosos jovens piratas numa busca pela liberdade, morte e diversão deste velho homem. Partimos junto ao nascer do Sol sob os ventos leste e antingimos a famijerada ilha 3 dias depois. Subimos pelas suas costas e tudo saiu conforme o planejado, e um dos bons homens que nós libertamos tinha dado sua razão para Deus a muito tempo, mas ainda gritara um bocado enquanto eu tirava com meu punhal o mapa que estava desenhado sob suas costelas.

A busca verdadeira começara quando a existência daquela maldita prisão terminara, e durante 200 anos ainda assombramos com aquele mapa de pele velha em mãos
até acharmos a maldita ilha com o maldito tesouro enterrado no maldito sopé do maldito vulcão. Recolhemos religiosamente o dinheiro e nos partimos dali, e por mais 100 anos vivemos sem perceber o tempo se alongar, até que a última peça de ouro fosse gasta e a ganância tomasse conta de minha cabeça denovo, assim como o envelhecimento. Então, assim iludido de que com um novo tesouro em mãos me tornaria imortal por mais e mais tempo, parti em minha mais corajosa busca. Eu e mais 34 bons homems fomos até o Novo Mundo e saqueamos uma baía desprotegida. Conseguimos ouro suficiente para deixar o barco umas boas toneladas mais pesado e partimos devolta para a Glória de um final de vida bem sucedida. Voltamos, gastamos e fomos imortais até o último centavo.

Se eu pudesse voltar atrás cada ano da imortalidade, da busca por glória, do sofrimento, da maresia, de assasinato e riqueza, faria tudo exatamente como fora feito da primeira vez, e não me arrependeria de nada, cantemos e busquemos mais ouro, antes que comecemos a ganhar barbas brancas denovo..."

Os dias de eternidade da tripulação do Verminant Flower se esvaíram com 4 vigorosos raios jogados das mãos de Deus, que se estenderam e duraram meio minuto cada um, saindo do brilhante e quente céu, sem nuvens, em cima do navio que voltava trazendo sua maldita tripulação de mais uma pilhagem bem sucedida e pronta para mais um centenário e um-pouco-mais de eternidade.

A última coisa que parou de se mover no corpo sem vida de Black Bottle Joe fora a face, e na face sem olhos, agora comidos por gaivotas, a boca se mexia, na boca, a língua soltava a última sílaba do poema maldito, e com uma simples onda, o Grande Mar levou para suas profundezas 578 anos de maldição, memórias, ouro, bons homens e rum.

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