Matar aula não doia mais tanto quanto antigamente para Wenshowner. Sho, pra todos. Wenshowner era seu sobrenome, seu primeiro nome era Charlie e quase ninguém sabia, e por um motivo desconhecido, todos lhe chamavam pelo sobrenome, talvez porque Charlie não lhe parecia adequado, apesar dos dezesseis anos, as feições constantes de homen velho o deixavam velho mesmo.
Se ajeitando pra sentar no alto da ribanceira arqueada por pinheiros que permitia que ele visse toda a cidade não pequena, mas também sem arranha céus em que ele vive, ele franze o cenho e dá uma boa olhada pra o sol que descia bem devagar, imperceptivelmente horizonte a dentro.
Dobrou os joelhos e estirou as pernas na grama rala do lugar. Bem á sua frente, uma queda de 58 metros, com amoreiras lá embaixo e mais pra frente, a saída da trilha para entrar nos fundos da farmácia 24 horas que servia de acesso da cidade, por ali. Atrás dele uma estrada de dois lados, pra baixo e pra cima, ambas de pedra e terra batida, coberta por tampas de garrafa e curiosamente, hoje, havia uma garrafa de Heineken cheia de mijo, que Sho chutara ribanceira a baixo. Depois da pequena estrada, mais pra trás, milhares incontáveis pinheiros robustos e alaranjados pela luz falha do sol. A sua direita, uns 2 bancos e umas embalagens de Jontex rasgadas. A sua direita, Ranodovan e Mirian (ou Rand e Mi) trocando carícias e beijos, 15 e 15 anos, muito amor, bom amor, muito amor.Rand e Mi demoraram mais do que o nescessário até se entregarem um ao outro, mas agora essa entrega era permanente, eles sabiam bem disso. Rand era bem, bonito. Mi era bonita. Rand tinha cabelos negros e uma curta trança até as 3 vértebras depois da nuca, que ele matinha sempre amarrada, nunca soltava os cabelos, era moreno e alto, o cara mais legal que Sho conhecera. Mi fazia juz ao rapaz que tinha, tinha curtos cabelos channel loiros embraquencidos, baixa em relação á Rand e sempre usava all stars. Eles se amavam, sim, sem dúvida, bom amor e Mi fora a única garota que Rand precisou de ajuda de Sho pra "pegar", o resto aconteceu por sí só.
Sho, Rand e Mi eram três bons amigos, Deus sabe como eram bons amigos.
O crepúsculo parecia realmente infinito, e isso deixou Sho feliz, ele até sorriu por entre os tortos dentes. Sem desviar o olhar da cidade que agora virara um mar laranja, com chaminés saindo de dentro e a fumaça das 4 Lanchonetes fast food da cidade se insinuando de cada ponto cardeal dela, tentou pegar seu copo de café, atirando assim ele morro a baixo.
AAAAAAAAAAAHHHH PORRA..! - Exclamou realmente frustrado por ter pedido o resto de cafeína fria para a gravidade.
Eita - Sibilou Rand. Trocaram olhares de pesar e voltaram as suas atividades.
Tem uma piroca do seu lado - Disse Sho.
Rand olhou e viu um cogumelo realmente fálico ao seu lado, Mi viu e riu também.
Tirando a camisa da Escola Estadual de Innoa Mountains Sho revelava sua camisa dos Kings of Leon e solta, musicalmente, outro grito: "I'm too young to feel this old!"
Rand e Mi não se incomodam. Um esquilo passa correndo e se acua pelo grito, prossegue vigilante.
Tinha matado a última aula e ido curtir o crepúsculo que estava bellíssimo, e estavam curtindo. Mi se deita no peito de Rand e Rand fala alguma coisa com Sho, ele responde, Rand replica, ele responde, os dois riem.
Uma hora mais tarde, o Sol ainda não se pora, mas ainda eram 19:15, então tudo bem, podiam ficar mais. Sho recebe uma ligação e reponde rispidamente "Tá bem, porra" e desliga, diz que tem que ir, e desce escorregando ribanceira abaixo, como eles gostavam de fazer. Rand e Mi se jogaram no banco e Rand pegou uma camisinha, como eles gostavam de fazer.
Sho caminhava pra casa e logo escureceria. No telefone era sua mãe gritando e perguntando aonde ele estava, pedindo pra que ele voltasse pra jogar o lixo fora e levar os remédios de seu tio.
Passando as mãos nos curtos cabelos e respirando dolorosamente, ele caminha pra dentro de casa, leva o lixo fora, volta e vai levar os medicamentos do tio adoecido, agora estava de bermudas e com seu Ipod. Estava Imortal agora.
-Puta que pariu, pode ir, cara -Praguejou para o Sol crepuscular que se estendera até as 20:00 hoje.
Entrou na casa do tio com a chave que tinha e deixou os remédios na mesa da sala, sem fazer barulhos, o tio chama do quarto e diz "É lindo, não é?", apontando pela janela para o crepúsculo tardio.
"É danado de bonito, tio" Responde educadamente Sho.
"Que horas são, filho?"
"20:30, tio.. e esse sol.. cacete."
O velho Wenshowner deitado na cama gela e fica pálido, pede o terço ao sobrinho, que lhe atende e lhe pergunta se ele quer alguma coisa. Mergulhado em orações, o tio não responde, e Sho sai e tranca a porta.
Na rua, as 20:50, as pessoas se apinhavam nas portas e no meio-fio pra olhar para o Crepúsculo que não descia.
Voltando pra casa e agora um bocado preocupado, Sho atende a porta e Rand é atentido. Olhos esbugalhados e cheio de pavor.
-Que porra é essa, cara?
-Eu sei, to com medo também cara, mas deve ser algo da mudança de estações.
-Porra, Sho, são 21:30, e o sol não baixou cara, que droga de estações o que, cara, tá tudo acabado, é o apoca...
Sho esbofeteia Rand e ambos riem. Saem e pegam a motoneta de Rand e dirigem até a casa que Mirian dividia com a irmã e seguem a pé até o Lou-Malou pra comer uns X-Quase-Tudo.
22:01. Sol no Horizonte.
Nas Tvs do Lou's, ancoras de Tele Jornais anunciam Noites intermináveis e cantos do mundo, Manhãs sem fim em outras e um Crepúsculo interminável pelas bandas de onde Innoa Mountains se encontrava, e mostrava cientistas perplexos.
Nada de comerciais. Só anúncios de suicídios coletivos, mortes de espécies e coisas do tipo.
Mi chorava no peito de Rand, que mantera o rosto longo e apreensivo, jogando olhares de "Fudeu, Cara" pra Sho.
Sem correria nas ruas, sem apocalipses zumbis.
Uma ou outra dona de casa chorando o apocalipse e as 00:00 se aproximando.
Todos relógios marcaram 00:00.
Nada aconteceu, e o Sol continuou lá, até todos acordarem denovo, e ainda estava lá, deixando a cidade lindamente laranja. Jornais anunciavam que os outros planetas também tinham parado e que a atividade solar continuava igual, tendo baixado 2 graus pra não mais mudar de estação.
Houveram chuvas, houveram dias quentes, houve uma estação pra cada dia da semana, mais nada que destruisse tudo.
12:00 do sábado e Sho ia levar uns doces que sua mãe fizera pro seu tio, entrou pelos aposentos e foi levar no quarto, seu tio não estava lá. Foi ao banheiro e achou ele com uma faca na garganta e sangue pelo corpo. Correu espantado e dentro de duas semanas, 3 dias antes de seu aniversário soube de inúmeros casos de suicídio. A maior parte, de viúvos ou depressivos com decepções afetivas.
Na véspera de seu aniversário ter achado a própria mãe morta enforcada no jardim não foi bom pra Sho. As pessoas não estavam ficando tristes pelos que morriam, apenas lamentavam, enterravam e seguiam em frente.
Notou-se que pessoas que nunca tinham tido um amor na vida não se matavam, assim como os que tinham um amor.
A situação ficou alarmante aos de coração marcado por decepções ou morte de seus amados quando os relógios que contam a idade da Terra pararam, as pessoas perderam a capacidade de ter filhos e a população da terra foi drasticamente reduzida. Mas depois de 300 anos com as mesmas pessoas na face da terra intactas, o mundo não conhecia mais guerra e morte.
Os solitários que sobraram tiveram uma eternidade pra achar seus amores em cada canto do mundo, e depois da onda de suicídios que durou alguns anos, ninguém mais na face da terra ousou morrer.
O único imcômodo, mas, que ainda assim era levado como diversão, era precisar viajar para curtir uma Noite, uma Manhã, ou um Crepúsculo.
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