sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

É de lua, é de toque

Tão antigo quanto uma canção perdida no espaço, cantada por alguma civilização morta, retumbada alto e forte pelas estrelas, era a conexão desses dois.

O sol batia fraco nas janelas, a luz entrava indiretamente e o macio da cama era o melhor lugar para se estar. O ar sussurrava lá fora, falando do clima e de notícias velhas, da próxima estação e dos pássaros que morreram tentando voar. Eles só sentiam o frescor que entrava meio tímido, mas conseguiam ouvir tudo isso, muito claramente. Naturalmente, sendo quem eles são. Melhor dizendo, sendo como eles são.
A pia estava pingando a quarenta minutos e isso não irritava como deveria, e agora parou. Só mais um motivo pra sorrir. Mesmo a metros e paredes de distância da cozinha, eles tinham certeza que tinha alguém lá, mexendo nas gavetas de baixo, só por curiosidade, não mal intencionado, sequer de carne e ossos, estava só abrindo as gavetas e olhando os talheres, as panelas, era confortável ficar naquela casa.
Deitados, somente respirando, eles sorriam, a receita estava perfeita, não precisava se adicionar nada, até o fim do dia e no nos dois dias seguintes seriam só eles e o agora. Não mais se lembravam se fazia mesmo sol ou se a lua já tecia pelos céus suas melodias suavemente melancólicas, não sabiam se era sexta ou domingo, se já era terça ou quarta feira e se vida realmente, até aquele ponto, fora deveras vivida. Naquela cama, encostada na parede, naquele quarto do tamanho da sala, igualmente pequena, com mais espelhos do que devia e de teto perfeitamente alto, tudo o que importava era respirar, sentir o coração bater, louvar o ritmo do universo a força de tudo, principalmente a deles, por estarem ali, por terem conseguido viver finalmente.
Viesse o que viesse depois, podia ser o que fosse, já tinha vindo o que veio antes, e o a intensidade do agora apagava tudo, destruía o tempo, tornava tudo navegação em mar de êxtase.
Não havia música, não havia barulho de ninguém mexendo na cozinha, até porque se sentara no sofá da sala, logo se deitara, e sem ser nem carne nem osso se esvaiu satisfeito. Até a rua, numa ousadia sem medida, estava silenciosa. E quando ousava fazer barulho, era o de alguma dona de casa estendendo roupas ou de passos de um velho, tudo preso dentro de uma grande e imensa jaula de impossibilidade, mas, bem, estava acontecendo.
A força que emana deles deitados ali, nus, é forte o suficiente pra acalmar os mares, escurecer o sol, fazer a terra girar em torno da lua, revelando sua paixão a tanto tempo oculta, é capaz de fazer do chumbo ouro, e do agora o sempre.

Então se faz um movimento, um dedo escapa da mão espalmada e desce fazendo curvas pelo pescoço dela, o dedo dança em seu busto e orbita seus seios, a mão desce por inteira e sente-se o coração, tranquilo, e forte com a força de mover o mundo. A mão desliza pelo abdômen e faz um aceno perto do umbigo. Ela sorri a ele, e mesmo sem estarem fazendo contato visual, ele sorri de volta, a poeria não quer obedecer a brisa e fica no chão, o chuveiro está na água quente mesmo na primavera, a lasanha ficou fria mas é só esquentar.

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