quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Gostava tanto

Gostava tanto do tal pássaro que resolveu prender em uma gaiola de ouro, dar as melhores sementes, as frutas mais suculentas e a água mais fresca, colocar nas melhores janelas e limpar tudo todo dia, dar todo o carinho e gastar toda a fortuna com o pássaro. Na primeira oportunidade, em um dia que houve um maior descuido na hora de limpar a gaiola dourada, enquanto ele conversava com a ave, ela voou embora, rápido, sem sequer dizer tchau, e tudo que sobrou foi a cara quebrada e as intermináveis perguntas repetidas de porque, porque foi embora? Se tinha a gaiola mais cara e mais bonita, se tinha a melhor comida, a melhor bebida, se era tratado como um rei, porque nunca cantara a ele, e, ainda por cima, fugira dos seus carinhos e mimos?
Em meio a prantos e soluços, ele sem lembra de tudo, e em meio a esse tudo, ele se lembra do começo, de como ele viu o ninho com os ovos, de como ele viu a mãe do pássaro ir pegar comida, de como as penas foram crescendo, de como ele preparou a armadilha para quando o passarinho aprendesse a voar, caísse nela, de como ele caiu nela, e de como ele colocou ele dentro da gaiola de ouro.
De repente, o homem percebeu que seu apartamento lhe parecia muito dourado, e o céu muito azul, com nuvens bonitas.

Semanas depois o homem foi deixando sementes na janela e vários pássaros vinham comer, menos o que ele queria que viesse, esse parecia ter sumido de vez.
Então, meses e meses depois, depois de duas estações, o pássaro apareceu, comeu umas sementes, percebeu a sala vazia, parou um tempo olhando aquele lugar, se limpou e voou embora.
Infelizmente o homem estava polindo a gaiola de ouro, em outro cômodo, para o caso do pássaro querer voltar um dia.

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