segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sangue

Com a cabeça levemente inclinada pra um lado, o cigarro pendendo pro outro, olhava impassível para a estrada escura na noite. Acelerava imprudentemente e a pick-up 86 rangia nos pequenos buracos da estrada escorregadia. Nevava severamente, tudo estava agasalhado e frio, mas por dentro ele queimava com whisky.

O motor conseguia tossir mais que ele, e o celular tocando se fazia inaudível devido a rádio Country que, como toda a noite de quarta, tocava 2 horas de "Country pra festa" e o volume estava altíssimo.

Entrou na auto-estrada e. Pneus carecas deslizando, a carroçeria toda fazia um som semelhante a um velho com parkinson tomando sopa quente com pedras.
Endireita a cabeça e se ajeita no banco, sai da auto estrada e entra no vilarejo, aos poucos a pick-up vai parando, morrendo devagar, numa espécie de ataque cardíaco barulhento.
Puxa uma baforada no cigarro enquanto semi-cerra os olhos profundos de olheiras, passa a mão livre  pelo cabelo preto cheio de caspa que ia até os ombros em curvas obscenas. Ajeita ele para trás e coloca seu boné de tela com o apagado logo da campanha presidencial de Barack Obama. Nunca soube de onde tinha vindo aquele boné.
Parou em frente a uma lanchonete com um incessante neon na fachada, piscando azul e claro, "Je_ry's Pl_ce". Tinha um bocado de gente lá dentro, ninguém bom demais.
O cigarro dançou em seus dentes e e jogou pela janela, acendeu outro e estendeu a mão até o banco de trás. Acaricia e traz pro banco da frente sua bela escopeta calibre 12, carregada.
Pega mais uns cartuchos no mesmo banco de trás e enche cada bolso com tudo que pode.
Quando a rádio anuncia a última canção das duas horas seguidas de "Country pra festa". É "All my Ex's live in Texas", e o DJ diz com sua voz exageradamente grossa que é "hora de acabar com a festa, recolham tudo ou vão dormir!"
-Hora de acabar com a festa... - balbuciou com a voz rouca.
Ele desce da pick-up e fecha a porta se trancando no frio do lado de fora.
Segurando "Josephine" nos ombros ele anda até a caçamba e conta de novo.
1, 2, 3, certo, certo, faltam dois.
3 sacos pretos recheados de gente ocupavam a caçamba da pick-up, ainda tinha espaço pra dois.
Anda em passos suaves e certos até a porta de vidro do Jerry's e olha lá pra dentro. Contabiliza exatamente 7 homens, 3 velhas e duas jovens.
Ótimo, ótimo.
Josephine despedaça a porta e o som das suas botas esmagando os cacos de vidro do lado de dentro enquanto ele entra não está de todo abafado pelos gritos e tiros.
Tudo é barulho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário