sexta-feira, 30 de setembro de 2011

1994

"Tento sempre lhe escrever algo que não escorra por entre meus dedos e vaze até meu coração, que não se extravie e vire uma declaração simplória e sem jeito, que não morra em sua essência poética e se transforme em clichê redundante.
Tento sempre mas sei que no fim das contas tudo o que mais importa de lhe contar é o que está óbvio a partir do momento em que me dedico a retórica e ao estilo polido, ao mais agudo grau de gentileza e polidez, buscando, futilmente, atingir vosso estado de divindade, lhe oferecer flores em forma de palavras que condigam com tua pele, teu  hálito, teus olhos, tuas formas, teu ser, tudo em ti que é precioso a mim, tu por inteira... Como vistes me perco neste vasto mar que é te dizer do meu amor.
Mato os pontos finais e gasto todas as vírgulas, me esqueço dos pontos emotivos e das interrogações, quero só manter contínuo e sem fim este eterno discurso acerca de ti, e mais nada me agrada, mais nada no mundo me parece adequado ou digno, todo o resto soa mesquinho e torpe, tudo e só o que me torna feliz e completo nesse mundo de confusões é a certeza de tua existência, é o prazer de te servir, de poder lhe fazer sorrir, de pertencer a ti e só. Simples e sublime.
Tento sempre expressar tudo isso de modo elaborado e agradável aos olhos, mas desde que lhe conheci e vi sentido em meu existir percebi que não se precisa de mais do que três palavras para falar tudo o que se quer ouvir, ler, sentir, viver. Desde que lhe conheci percebo que sempre foi assim e assim sempre há de ser, tudo em um e um em tudo. Contigo entendi o verdadeiro sentido dessas palavras e fizestes com que eu descobrisse o melhor disso tudo. Que não se precisa escrever, não se precisa falar, não se precisa nada além de sentir, pois é o que somos. Só sentir."

1994

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