Não exponho aqui a dúvida de que todos, sem excecão, já sentiram aquele sentimento de libertação misturado com desespero. Digo que todos o sentem pois é exatamente o que os bebês sentem ao nascer, e se você viver uma vida com o mínimo de intensidade irá sentir com a mesma intensidade. Mas não tanta intensidade quanto se pode sentir neste lugar...
Tomemos agora por companhia deste tempestuoso passeio esta alma que ali adiante vem, voando sem saber seu rumo por entre tantas outras, tão atônitas quanto ela, e passemos alguns agradáveis minutos descobrindo um pouco da verdade.
Isso, vamos ao seu lado, um pouco mais atrás, para que ela não nos note. Bem como se sabe, aqui não se pode ver ou ouvir, sentir ou falar. Tudo aqui é muito semelhante ao mundo físico que conhecemos, exceto que aqui tudo é feito através das emoções, ou, como diríamos em âmbito físico, o coração, apesar de não mais ser necessário neste plano. As emoções são sua boca, seus olhos, seus ouvidos e sua voz. Suas pernas, seus braços e sua imagem, e atráves das emoções vós eis de interagir neste mundo de intensidade e sensação.
Agora, seguindo junto da nossa escolhida alma, vamos junto ao fluxo de tantas outras que rumam gritando e apenas sentindo por onde devem ir.
Chegamos agora a uma encruzilhada; à esquerda temos um turbilhão de escuridão e de almas imundas, escuridão e imundice essa que apenas sensações podem descrever. Nesse abismo da esquerda estas negras almas gritando e rangendo os dentes com força, entram em um fluxo fortíssimo de incontáveis pecados até seu fundo. Este abismo é rubro vive em constantes chamas. Dele saem gritos e desespero.
À nossa direita extrema, temos um outro caminho. Este não é um tubo, é uma escada feita de ladrilhos macios e bem ajustados, por ali sobem as almas caminhando tranquilamente em direção a uma luz eterna, e deste caminho luminoso saem agradáveis conversas e um conforto indescritível. O fluxo espiritual nesta escada é infinitas vezes menor do que no abismo rubro, mas ainda assim é imenso.
Agora, no centro da encruzilhada, temos outro caminho. Este é diferente. Não é Abismo nem Escadaria, é uma enorme circunferência, na qual caberia o mundo inteiro, mas que parece extremamente apertado quando se entra. Ele é longo e faz uma descida perpendicular de infinita curva para a direita, sempre descendo. É feito de metal e é uma peça única.
Agora estamos nos aproximando do ponto de divisão do fluxo mor; grande parte se direciona à esquerda, sob agonia e tristeza; uma parcela seleta e menor se dirige para a direta, com alegria e júbilo. Ao centro, com gritos de ansiedade e temor, uma parte quase tão grande quanto a da esquerda se focaliza e vai túbulo a baixo.
O que decide por que lado a alma seguirá é tão somente seu peso; as mais pesadas pela esquerda, pelo abismo; as amenas pelo centro, no tubo; e as sem peso algum pela direita, sobem a escada.
É pelo caminho do centro que nossa seleta alma se incursiona.
Não temam os gritos nem o som do metal rangendo, não estamos em local ruim ou danoso, e logo chegaremos ao nosso destino.
Chegando ao final da imensa curva perpendicular à direita, caímos em nosso destino e o alçapão da curva se fecha.
Chegamos a um círculo de proporções infinitas, que se insinua em queda, como um ralo, para o centro. Ainda pela sua aparente infinidade de tamanho, podemos ver todos seus extremos e sua curva de descida até o centro, que lhe dá o aspecto de ralo. O que salienta ainda mais este aspecto de ralo são os buracos no chão, do tamanho de crânios. O chão é todo feito de aço e aparenta ter imensas rochas por baixo. As paredes são também feitas todas em metal, mas não tem furos e nem aparentam pedras atrás de sí, mas mostram marcas, como se algo lhes ralasse constantemente em círculos viciosos. Olhando-se para cima se vê a torre interiormente subir subir subir e subir infinitamente, aparentando de fato não terminar. O clima é de uma espécie de névoa cor-de-beterraba que paira no ar.
Quando todas as cinzas almas (não de todo negras nem de todo brancas, cinzas de fato) caem ao chão, acabam por cair encostadas nos extremos, e olhando de onde estamos (e de qualquer outro ponto) pode-se ver as almas formarem um círculo, tentando se encostar ao máximo nos extremos da torre, e tentando não cair para seu centro.
As almas estão paradas e empilhadas em um círculo longo e agonioso, ainda gemendo de ansiedade e aflitas, porém paradas.
A névoa que paira, então, começa a condensar-se e chove em sangue pelo chão, poupando apenas um ou dois metros antes de tocar nas almas, criando assim um imenso lago de sangue que se estende por todo o chão, parando muito pouco antes do círculo das almas.
Todas elas entram em susto e começar a se arrastar (sim, pois aqui elas só possuem do tronco pra cima) em sentido horário, se agarrando futilmente as paredes, girando e avançando em uma infinita fila. Todas agora gritam em clamor, desespero e agonia, mas você pode ouvir algo a mais nos gritos, não pode? Sim, todos eles, apesar de aparentarem desilusão, tem uma alegria e um torpor de felicidade sem tamanho.
Agora deixemos estas bem afortunadas almas (inclusive a nossa escolhida para este passeio) em seu giro desesperado e alegremente horário para fugir do lago de sangue escuro como a noite, e voltemos pela curva que nos trouxe até aqui.
Oh, sim, você pode ver também, não é? Sim. É verdade. Enquanto mais elas giram e se arrastam em seu furor, mais o ralo se ergue e sobre pela torre, continuando a subir curvadamente para a direita.
Muito bem... voltemos pelo fluxo principal...
Muito bem... de volta ao ponto de partida...
Muito bem... agora podes acordar, meu filho...
Muito bem.
não creio que exista 3 lugares sendo inferno,purgatorio e paraiso.
ResponderExcluirCreio que a maioria das almas vão sim pro inferno e tem que pagar pelo que fizerem na vida terrena mas tambem creio que quando essa divida estiver paga as almas podem subir ao paraiso pra finalmente ter descanso,não necessariamente eterno,acredito em reencarnações.Existindo sim uma salvação mas no inferno e não na terra como andam pregando por ai