Digitava convulsivamente alguma coisa no seu blog, e olhava nervoso e ansioso vídeos de MMA no Youtube. Ouvia Suicide Silence, que acendia o assasino dentro dele. Olhava rápido pra todos os cantos do quarto, fumara todos os cigarros e a cerveja estava morta, seca, virada em cima da cama. Procurava algum bom motivo pra não entrar naquela, para não "enfiar a porrada naquele filho da puta", mas o seu censo de justiça não funcionava agora, e os motivos para fazer isso eram bem mais confortáveis e justos. Seu cabelo rockabilly estava desgrenhado e sua camisa xadrez furada nos bolsos, batia num ritmo indefinido os longos e magros pés no chão, balançando a cabeça rápido e de leve.
Seu rosto pálido com espinhas esparsas e sua barba do queixo por fazer, seus 18 anos e sua total falta de direção, bater em alguém, ainda mais "naquele filho da puta", justificava toda a sua vida de vagabundo até agora. O castanho dos seus olhos mestiços brilhavam de maneira estranha, seu rosto longo e seco estava tenso como as cordas de seu baixo, que dormia na cama surrada.
De um salto ele olha as horas e pula da cadeira, calça seus Addidas oldschool e coloca as chaves e o celular no bolso, 5 reais e algumas moedas. Por algum motivo, a cena toda, a situação toda lhe parece tirada de algum filme muito ruim do começo dos anos 90 sobre estudantes em crise. Ele abre um sorrisinho, fazendo um teatro a sí próprio, imaginando se alguém se importava de verdade.
Desliga o computador com um toque rápido e desce pela escada rápido, acendendo um Black, e depois subindo a escada devagar pra pegar sua jaqueta de couro suja de óleo e bebida. Passa a mão rápido por ela e se veste maquinalmente e vai saindo, quando vê seu reflexo no espelho e se sente incrivelmente forte, "peso pesado, cara" e ri de sua própria babaquice. Se sacode como um cachorro e acha que esta bem demais, forte. Se sente mais forte.
Não o suficiente.
Vai rápido na gaveta da esquerda e pega um pacotinho, abre e joga um pouco do lado do teclado e ajeita com uma navalha, corre a linha branca e sobe ao céu, invencível.
Fecha os olhos pesadamente e vira a cabeça ao teto, solta um grito agudo e involuntário. Força.
Guarda o pacote na gaveta fechando-a bruscamente e desce rápido, tranca a porta e bate o portão com força. O olhar rubro, contrastando com a escuridão da noite. Sai por entre as respeitáveis casas, joga o capuz na cabeça fina e até parece que consegue se ver de frente, vê aquele vulto preto azulado de olhos vermelhos, magro, rápido, com um andar especialmente forte esta noite, jogando os braços pro lado e encurvando o pescoço pra frente, a face concentrada numa expressão de assustar, a postura ereta e a cabeça em outro mundo.
Sozinho, quase corre com passos largos e longos, os que passam por ele... sim, ele sabe o que eles pensam.
Limpa o nariz rápido e avista de longe o estacionamento, iluminado foscamente ao redor, e um círculo de faróis no meio, se surpreende ao ver todos aqueles carros ricos com aqueles playboys de merda em volta, como se fosse uma festa. "Se via crucis virou circo, estou aqui", pensou rápido. Não achou graça. Chegou perto e viram ele, gritaram em vaia e ele adentrou o círculo, olhou para o "grandissísimo filho da puta". Ninguém ia sair dali rindo essa noite, ele não era mais o mesmo, ninguém mais ia ser o mesmo depois que aquilo terminasse.
Avançou para dentro da vingança, rubro,
forte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário