sábado, 24 de março de 2012

A missa

Sentado na calçada, com o sol forte esquentando a nuca, nem novo demais para se chamado de meu bebê nem velho demais para ser um mocinho, ele só é  um coração quebrado, mas ninguém se importa muito. Na verdade, ninguém se importa nem um pouco. Só um  moleque, o mais provável é que tudo que ele queria é atenção pra fazer alguma traquinagem. É só não dar atenção.
Sentado ali fora por ter puxado o terno do pai pra falar com ele e ser repreendido com um severo,  frio e baixo; "Cala boca menino, que estamos na missa, vai lá pra fora e para de ser atentado".
Foi bem difícil segurar o choro e andar aos  trancos ao mesmo tempo pelo corredor, com todo mundo olhando, mas foi só sentar lá fora que as lágrimas escorreram.  Não pra fora, não pra fora, nunca pra fora. Elas foram por dentro pra queimar o coração.

É só tristeza de criança, não leva a nada. Carrega o brilho de mil estrelas mortas e a agonia de todo o arrependimento do mundo. Toda culpa do mundo em um coração tão pequeno, e é difícil entender porque foram rude com ele. A pior parte e quando se consegue entender.
Se sentiu tão pequeno que se apertou forte pra não chorar,  fez careta sem querer, mordeu os lábios, era só ácido  por dentro.
O ar muito abafado, cozinhando tudo, e de súbito chuva forte, pancada de verão, ensopando tudo.
Leveza no coração, o amargo se suaviza, a chuva naturalmente junto com o finalzinho da missa vai apressar seu pai pra vir vê-lo, abraçá-lo e cobri-lo  com o  paletó, tirando da chuva, quem sabe até vai comprar um bolo de milho para depois do almoço.
E ele espera  sentado na chuva por alguns segundos.  Minutos.
E por algum  tempo mais que assemelhou-se a eternidade e fez a sensação de alívio sumir e o amago voltar em dobro.
Chora, chore e vai chorando, porque agonia de criança ninguém vê, ninguém  conhece, mas todos já  sentiram. Chove, chove, e vai chovendo.
Amém.

Um comentário:

  1. Oi oi, achei seu blog seguindo lá do Creepypastabrazil, depois que li sua tradução de "Psicose" que ficou excelente, aí concluí que você deveria escrever bem, porque quem traduz, na verdade, recria. E eu estava certa, pis, dei uma lida por aqui e gostei. Ainda bem que foi você quem traduziu aquela Creepy, por que se tivesse sido mal traduzida (como vejo algumas em outros blogs) teria perdido todo o sentido da ambiguidade (apesar de que eu acho que a "Entidade" existia, afinal, webcams não se movem sozinhas, entre outras coisas...).

    Enfim, seguindo aqui.

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